Artigo


Cuidando do Emocional da Família Pastoral


Muito temos ouvido sobre o cuidado com a saúde emocional, e isso é ótimo, pois há um tempo achava-se que era uma bobagem, e que não era necessário cuidado nesse quesito, que apenas os fracos adoeciam mentalmente. Hoje, saúde mental virou um foco de pesquisa, tema de palestras, assunto abordado em escolas, empresas, igrejas e, ampliando nosso olhar, chegamos à família pastoral. Uma família peculiar na igreja, tão igual a qualquer outra, mas diferente no papel exercido na comunidade da fé.

Quando lemos as recomendações de Paulo a Timóteo sobre as qualificações dos bispos e ministros (1Tm 3. 1-7) fica muito clara a intenção do apóstolo a seu discípulo quanto à condução do processo de escolha das novas lideranças que cuidariam do rebanho. Devia ser alguém qualificado tanto para o serviço em si, quanto moralmente correto, além de cuidadoso com os seus filhos e esposa. Na palavra de Deus não existe nada aleatório, se estão sendo colocadas essas especificidades é porque existe uma razão de ser.

A saúde emocional é algo fundamental quando se fala na integralidade do ser humano, pois não é possível separá-lo em partes. Tudo acontece em nosso corpo físico, mente e espírito, que, num conjunto apontam para um ser complexo e cheio de nuances. Mas afinal, como cuidamos de nossa saúde emocional? Vamos à parte prática. Como já foi dito, nossa saúde é integrada e hábitos saudáveis são fundamentais.

  • Alimentação saudável e equilibrada. Nosso intestino interfere diretamente na saúde emocional, sendo conhecido como o segundo cérebro, produz um percentual alto de serotonina, hormônio relacionado à regulação do humor, logo, se temos uma alimentação desequilibrada a longo prazo trará maus resultados;

 

  • Atividade física. O corpo precisa de movimento, então escolher uma atividade e praticar, traz sensação de bem-estar e saúde, e como consequência também temos a produção de hormônios que inibem o estresse e trazem equilíbrio;

 

  • Organização da rotina. A bagunça faz mal, deixa tudo confuso e os papéis não ficam claros, já a ordem na casa, na família e na agenda cooperam para o bem-estar de todos.

 

  • Diálogo. Tirar um tempo de qualidade, ouvindo e sendo ouvido, olhando no olho, brincando, falando sobre seus sentimentos, sonhos e aleatoriedades faz bem! E Como faz! É tão bom saber que somos estimados, que fazemos a diferença, que nossa companhia é apreciada, que somos amados. Mas para sabermos tudo isso a comunicação é essencial! Muitas vezes o Pastor e a família tiram tempo para ouvir tanta gente, mas podem esquecer de ouvirem-se. Conversam com toda família da fé, mas entre si há um abismo. Pense em como se sente quando alguém se interessa por sua vida, imagino que se sinta valorizado e feliz, então não deixe essa lacuna aberta para que outros ocupem esse espaço na sua família, pergunte ao marido como foi seu dia e como se sentiu, pergunte à sua esposa como estava sua rotina, como foi no trabalho de casa ou secular, pergunte aos filhos sobre as amizades, escola e trabalho (o que aconteceu de melhor e de pior no seu dia?). Fale sobre seus sentimentos, não se acusem, antes, ouçam um ao outro, não fiquem tão focados em apontar soluções, mas em verdadeiramente acolher e estar ali. Melhor do que soluções é estar presente um na vida do outro;

 

  • Peçam ajuda. O pastor e a família não são seres inerrantes e infalíveis, são passíveis de erros e limitações como qualquer outro, então podem e vão existir situações complicadas, delicadas e que necessitam o auxílio de um terceiro, ou de um grupo conselheiro. Isso não é demérito, antes, é honesto e verdadeiro. Pedir ajuda não é igual a desistir, e sim, admitir que Deus nos abençoa com amigos e profissionais capacitados, cada um na sua área;

Enfim, tudo que foi abordado é importante para todos, mas àqueles que têm o cuidado de outros sob sua responsabilidade precisam sim, ter seu tanque emocional abastecidos constantemente, pois lidam com as mais diversas demandas, das simples às complexas e isso com o passar do tempo pode ir corroendo as relações mais próximas. Falar do cuidado com o emocional da família pastoral é abordar a vida de um modo amplo nas suas diversas áreas. É olhar com carinho e atenção, tanto para si quanto para os que o cercam. Vamos pensar de maneira clara e sincera como andam os itens acima mencionados? Como você tem manejado suas demandas pessoais? Como tem acolhido suas necessidades e as necessidades da sua família? Uma agenda cheia não é sinônimo de sucesso nem reflete eficiência ministerial, mas pode ser um sinal de que as prioridades estão invertidas, então deixo um convite para que cada um faça uma análise de si e de sua família.

Uma família feliz produz alegria e saúde, uma família negligenciada provoca marcas profundas no coração de todos. Somos chamados a abençoar os nossos e a igreja. “Seja você uma benção” (Gn 12, 2b NAA).

Bruna Ávila - Psicóloga

DATA DA ATUALIZAÇÃO: 1 ano atrás